Andei ausente nos textos por aqui por motivo de eleições. Entre um ato e outro, uma unha roída e outra, achei importante me reapresentar.
Sou Daniela, mulher cis, filha de professores – uma emigrante do sertão paraibano e outro do interior de São Paulo. Cresci em Carapicuíba, cidade periférica da Grande SP, formei em uma faculdade pública há dez anos, onde me organizei no movimento estudantil, e foram nove os anos dedicados ao trabalho no SUS. Desigualdades sociais das mais sutis às mais violentas fazem parte da minha memória desde que me reconheço. Por conta dessa trajetória resumida, me afirmo feminista marxista e antirracista – não havia como ser diferente.
Acredito ser fundamental que todos esses elementos caminhem juntos como definição de quem sou e como me posiciono no mundo. Autodeclarar-me marxista significa que reconheço uma sociedade historicamente cindida em classes sociais distintas e opostas em acessos, oportunidades e condições reais de existência – classes dominantes e dominadas – e não há necessidade de apontar qual delas possui ou não livre acesso ao que de melhor produziu e produz a humanidade. As pessoas que compõem as classes subalternas estão há séculos em luta ferrenha pela garantia de direitos fundamentais para a existência humana como: saúde; educação; trabalho; lazer; cultura etc. Ainda feminista e antirracista – é preciso nomear personagens que compõem essas classes. É, sobretudo, compreender que há diferenças profundas de oportunidades e acessos, privilégios e restrições. Pessoas pretas e brancas, cis e trans, trabalhadoras e burguesas, têm suas vidas pautadas pela divisão sexual do trabalho, violência de gênero, sexismo e racismo.
Hoje, após a derrota do Bolsonaro nas urnas, mas ainda longe de uma vitória concreta da classe trabalhadora, considero importante demarcar politicamente o meu ser mulher.
É preciso ser marxista, feminista e antirracista para reconhecer e lutar por uma sociedade que produza coletivamente e, coletivamente, todes possam consumir tudo aquilo que é necessário para existir. É preciso lutar por uma sociedade que não mais utilizará as diferenças como munição para armar um mecanismo de opressão e exclusão sistemáticos.