Quão pornográfico é o seu sexo?

Para muitos, a s3xualidade foi embasada na p0rnografia, seja pela ausência de um diálogo aberto entre os familiares e amigos; seja pela falta de um currículo escolar que incluísse educação s3xual de qualidade; ou pela facilidade de acesso que tivemos/temos a ela. Ter sua s3xualidade pautada na p0rnografia significa submeter-se (ou ao menos tentar) aos padrões estéticos e comportamentais.

Parte das nossas preocupações com depilações, tamanhos, formatos e cores de vulv4s, posições sexuais que valorizem (ou escondam) essa ou aquela parte do corpo, advém da gama de cenas p0rnográficas que trazemos na memória. Assim como parte do nosso repertório s3xual.

Para a p0rnografia, é quase sempre obrigatório o s3xo 0ral seguido da pen3tração v4ginal (e/ou an4l) em posições diversas, aparentemente não tão confortáveis, mas que ficam ótimas para as câmeras. Uma pitada de v1olência serve para adicionar tensão à trama e um tapa, um enf0rcamento ou um puxão de cabelo costumam ser recebidos com grande anseio pela atriz. Ela g3me tanto que mal conseguimos entender quando era para ser (é uma atriz) um g3mido de pr4zer ou um 0rgasmo. Tudo termina com alguma esp0rrada homérica em algum lugar aleatório. Fim.

Na p0rnografia, quando existe pr3servativo, não acompanhamos ele sendo colocado; não existem muitos diálogos sobre a relação que se dará; não existe um xixi após relação; nenhuma mulher fica brava porque um cara g0zou no cabelo dela sem consentimento. Aliás, consentimento é algo que não costuma aparecer nos filmes, fica implícito ali, visto que é o trabalho dos atores.

Não quero aqui advogar pela volta da pornô chanchada com seus roteiros terríveis ou por pausas para informes do Ministério da Saúde durante a programação pornô dos sites, tampouco criticar quem pratique um s3xo hardcore ou BDSM. Mas chamo atenção para tantas práticas corriqueiras nas nossas relações sobre as quais nem sempre refletimos acerca da origem. Lembro-me de ver um filme pornô na adolescência e pensar se precisava ser tão rápido aquele movimento. Não precisava. Assim como podemos construir nossa própria forma de tr4nsar e não precisamos seguir nenhum roteiro.

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