Quando penso em consentimento, a primeira palavra que me vem à mente é o “não”. Mas o significado de consentimento é o oposto – quem consente manifesta-se favoravelmente a algo, concorda com o que está posto etc. Por que então penso na palavra NÃO? Porque na minha história e de muitas mulheres que conheci, aprender a dizer “não” foi muito mais libertador e positivo para a vida do que o “sim”.
Dizer “sim” ou consentir algo para uma mulher que vive em uma sociedade machista e patriarcal é viver um pleonasmo. Já o NÃO, esse é resultado de luta, força, diálogo, sororidade. Até hoje, espera-se que uma mulher, desde sua tenra infância seja delicada, passiva, compreensiva, dedicada, empática, silenciada. Às mulheres são proferidos elogios incontáveis quando são resolutas e multitarefas – a grande mulher é mãe, cuidadora, se abstém dos seus desejos e vontades pelos filhos, marido, família e pela casa. A vida da mulher é umgrande SIM, eu aceito!
Aliás, se você, mulher que lê este post, está neste lugar descrito acima e está consciente e confortável – tudo bem. Não trago crítica a pessoalidades, mas ao nosso entendimento de consentimento.
Ponto é que mulheres podem/devem ocupar outros espaços e, para ser e estar de outra forma, é preciso dizer “NÃO”. E, para que ele saia de forma límpida e possa ser vivido e realizado, é preciso se conhecer e conhecer a nossa história quanto mulheres, é preciso rede de apoio (não falo apenas na criação de crianças, mas na vida como amizades, família, terapia, etc.), emprego estável, segurança. Quantas de nós, que desejamos mais e diferente, estamos alinhadas com nossos desejos e com condições objetivas para vivê-los?
Consentir é ter a possibilidade de dizer “NÃO” a todos os SIMs impostos a nós – NÃO aos relacionamentos abusivos, aos padrões de beleza, padrões de gênero, às violências que normalizamos todos os dias.